No começo eram elas: as parteiras

quarta-feira, 21 de novembro de 2012


As chamadas “parteiras” são as mestras pioneiras na assistência ao parto. São na maioria mulheres, mães, avós, bisavós, o que lhes concede maior compreensão com as mulheres que atendem na hora de dar a luz. É uma das profissões mais antigas da humanidade.  


No início da colonização, aqui em Missal, não havia médico. A Irmã Clarinda, bem como outras parteiras, vieram a partir de 1965. Houve até casos em que o próprio marido  teve que realizar o parto, por falta de parteira e por não haver condições de levar a esposa à Medianeira ou Santa Helena, pois os rios não davam passagem.

As parteiras, essas guerreiras, eram procuradas pelas famílias, por terem por elas um vínculo de confiança e respeito. Com sabedoria passavam tranqüilidade às mulheres na hora do parto, com uso de remédios e chás caseiros. As parteiras eram reconhecidas e respeitadas.  Tinham muitas fé e coragem para que o trabalho de parto acontecesse sem maiores problemas. Gestantes em risco de vida eram encaminhadas ao médico.

Pessoas vinham de longe, batiam na porta, a fim de buscá-las à cavalo, de carroça, de jipe ou rural. Muitas noites sem dormir. Horas esperando, com iluminação precária. Muitas vezes conviviam em situações de medo, incertezas e insegurança, também de suas vitórias e alegrias quando tudo dava certo quando tanto mães com os bebês sobreviviam cheias de saúde. A gestação e o parto são momentos únicos e inesquecíveis.  Quanta emoção ao pegar nas mãos o recém nascido. Vida nova e famílias felizes.

Irmã Clarinda veio em fevereiro de 1965. Além de parteira atendia casos de emergência, pois não havia médico no povoado da Gleba dos Bispos. Graças a Irmã Clarinda muitas vidas foram salvas. As vezes usava o fórceps para auxiliar a retirada do bebê, por alguma razão em que a contração natural não era o suficiente para o parto. Geralmente era usado quando o bebê era muito grande ou em casos de parto de risco.

A Senhora Magdalena Willers, também exercia  a função de parteira e registrava numa caderneta o nome da parturiente, idade, dados do nascimento do bebê como: peso, sexo, data, peso, cor e endereço.

Dona Antonia Braga, moradora da Linha São Francisco, exerceu a função de parteira durante 36 anos. Fez partos nas redondezas, até Portão Ocoí, Jacutinga, Linha Caçador e outras. Não cobrava pelo serviço, mas as pessoas costumavam dar em troca banha, melado, ovos ou outros produtos que tinham na propriedade. Andava a cavalo e muitas vezes à noite, com chuva e frio. Segundo relato de Dona Antonia, no Projeto Chá de Memória (1999) atendia até três partos por noite.

Na década de 70 veio para Missal o Dr. Guido Perez, clínico geral e construiu o Hospital Nossa Senhora de Fátima. Hoje a profissão de parteira está fadada ao esquecimento, pois a medicina e evolução tecnológica evoluíram exigindo profissionais especializados.

Foto:Caderneta  com dados da parteira Magdalena Willers.

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