As chamadas “parteiras” são as mestras pioneiras na
assistência ao parto. São na maioria mulheres, mães, avós, bisavós, o que lhes
concede maior compreensão com as mulheres que atendem na hora de dar a luz. É
uma das profissões mais antigas da humanidade.
No
início da colonização, aqui em Missal, não havia médico. A Irmã Clarinda, bem
como outras parteiras, vieram a partir de 1965. Houve até casos em que o
próprio marido teve que realizar o
parto, por falta de parteira e por não haver condições de levar a esposa à
Medianeira ou Santa Helena, pois os rios não davam passagem.
As parteiras, essas guerreiras, eram procuradas pelas
famílias, por terem por elas um vínculo de confiança e respeito. Com sabedoria
passavam tranqüilidade às mulheres na hora do parto, com uso de remédios e chás
caseiros. As parteiras eram reconhecidas e respeitadas. Tinham muitas fé e coragem para que o
trabalho de parto acontecesse sem maiores problemas. Gestantes em risco de vida
eram encaminhadas ao médico.
Pessoas
vinham de longe, batiam na porta, a fim de buscá-las à cavalo, de carroça, de
jipe ou rural. Muitas noites sem dormir. Horas esperando, com iluminação precária.
Muitas vezes conviviam em situações de medo, incertezas e insegurança, também
de suas vitórias e alegrias quando tudo dava certo quando tanto mães com os
bebês sobreviviam cheias de saúde. A gestação e o parto são momentos únicos e
inesquecíveis. Quanta emoção ao pegar
nas mãos o recém nascido. Vida nova e famílias felizes.
Irmã
Clarinda veio em fevereiro de 1965. Além de parteira atendia casos de
emergência, pois não havia médico no povoado da Gleba dos Bispos. Graças a Irmã
Clarinda muitas vidas foram salvas. As vezes usava o fórceps para auxiliar a
retirada do bebê, por alguma razão em que a contração natural não era o
suficiente para o parto. Geralmente era usado quando o bebê era muito grande ou
em casos de parto de risco.
A
Senhora Magdalena Willers, também exercia
a função de parteira e registrava numa caderneta o nome da parturiente,
idade, dados do nascimento do bebê como: peso, sexo, data, peso, cor e
endereço.
Dona
Antonia Braga, moradora da Linha São Francisco, exerceu a função de parteira
durante 36 anos. Fez partos nas redondezas, até Portão Ocoí, Jacutinga, Linha
Caçador e outras. Não cobrava pelo serviço, mas as pessoas costumavam dar em
troca banha, melado, ovos ou outros produtos que tinham na propriedade. Andava
a cavalo e muitas vezes à noite, com chuva e frio. Segundo relato de Dona
Antonia, no Projeto Chá de Memória (1999) atendia até três partos por noite.
Na
década de 70 veio para Missal o Dr. Guido Perez, clínico geral e construiu o
Hospital Nossa Senhora de Fátima. Hoje a profissão de parteira está fadada ao
esquecimento, pois a medicina e evolução tecnológica evoluíram exigindo
profissionais especializados.
Foto:Caderneta com dados da parteira Magdalena Willers.
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