JONAS KAZMIRCZAK de Itaipulândia deixou emprego, amigos e
família para trabalhar de voluntário na África
“Paulo Coelho, escritor e jornalista brasileiro postou no
twitter: @jonaskzk Orgulho de ser brasileiro e encontrar uma pessoa como você
fazendo um trabalho tão importante como esse”.
“Estamos realizados e orgulhosos pelo trabalho que ele
está fazendo na África. Estamos com saudades, mas o povo da África no momento
necessita mais do trabalho dele e da
presença do que nós aqui. Filho, nós te
amamos”! João e Lisete, pais.
Em um dia, casa, comida, roupa lavada, um bom emprego,
amigos e muitos jogos do time do coração para assistir no Brasil. No outro, uma
comunidade pobre da África, de língua indígena, que sofre com malária, HIV, má
nutrição, falta de luz, água e comida, com casas de barro, porta de bambu e
telhado de palha. Funerais de três dias e prática do vodu. O que você faria se
isso acontecesse com você? Enfrentar, desistir ou torcer para acordar de um
sonho? Ou então, fará de conta que não é com você?
“Deixo para trás, minha família, meus sobrinhos, que é
neles que creio a alegria obsoleta, na pureza da criança, na verdade de um abraço
ou na negação de um beijo e, principalmente, na sinceridade dos seus sorrisos.
Deixo meu capitalismo, o conforto do meu quarto, a nossa casa que fazem 4 meses
que inauguramos, meu emprego como farmacêutico, todos os amigos que compartilho
meu ser, e meus amores dos quais sou eternamente apaixonado. Sobre o medo...
tenho, ele existe. Mas vou enfrentá-lo com a alegria que possuo e a coragem que
Deus me proporcionar”.
Ele
já havia procurado alguns programas de voluntariado na África durante o tempo
livre. “Certa manhã, a rádio CBN de Cascavel estava falando sobre trabalho
voluntário e eles retuitaram um post do twitter enviado por uma voluntária do
Instituto, fazendo divulgação do trabalho deles na África. Foi então que eu
entrei em contato com o site e comecei a pesquisar sobre esta ONG e suas
filosofias de trabalho’’.
O
começo não foi fácil. “No início com certeza foi um choque para meus pais. O
fato de trabalhar, pedir demissão, sair da linha de carreira, deixar de ganhar
dinheiro, de progredir financeiramente, e entrar em um trabalho que não te soma
financeiramente, não é uma decisão simples. Mas meus pais sempre foram muito
abertos para discutir sobre indiferentes assuntos e no final acabaram aceitando.
Hoje me apoiam diretamente, tanto que a grande responsável por bons números das
doações recebidas para as pré-escolas foi minha mãe, no trabalho de porta a
porta com seus amigos”, fala. Jonas citou ainda o trabalho de outro grande
missionário que trabalhou na África: O Padre José Pedro, de Itaipulândia, que
faleceu devido a complicações adquiridas naquele país.
O
programa de voluntariado é uma grande oportunidade para quem quer trabalhar.
“Não é fácil, existem momentos difíceis, mas se você manter o foco e a atitude,
pode mudar a vida de muita gente, gerar novos sonhos e diferentes futuros para
quem nunca sonhou em ter um”, comenta.
Trajetória
O
trabalho de Jonas começou nos EUA, em uma ONG na cidade de Dowagiac, Michigan,
chamada One World Center. Lá ele recebeu cursos preparatórios para realizar o
trabalho na África. Dentre os temas apresentados estão assuntos relacionados à
globalização, com o intuito de auxiliar na formação da opinião dos cursistas,
para entender as causas da desigualdade social no mundo. Além disso, filosofias
para garantir uma melhor qualidade de vida a todos e também mostrar na prática
os principais vilões de aquecimento global e da pobreza.
Em
paralelo aos seis meses de treinamento nos EUA, Jonas fez uma pós através da
One World University, de Moçambique. “Nesse estudo você é graduado na luta
contra a pobreza, aprende sistemas mundiais que funcionam e ajudam na luta e principalmente,
os sistemas que não deram certo, para que você não repita o erro”, comenta.
Quem
participa do curso pode escolher em qual programa irá trabalhar: Índia, China,
Brasil, Sant Vicent e países da África. O instituto tem muitas extensões. A
sede geral é na Dinamarca, onde a ONG foi fundada, na década de 70. “A minha
escolha foi: país Malawi e a área, o Clube Rural”, fala.
Uma nova realidade
O
trio de trabalho de Jonas é composto por Nahyum Kim, da Coréia do Sul, e Mai
Sugaya, do Japão. “Esse trio é o que está vivendo aqui na África comigo.
Trabalhamos juntos no mesmo projeto dando suporte um ao outro”, diz. Depois de
seis meses nos EUA, chegou a hora do trabalho. “A expectativa era grande. Não
sabia da realidade que iria encontrar então, decidi raspar o cabelo para ficar
mais higiênico contra os piolhos”.
As
surpresas já começaram no primeiro dia. “Estávamos sem água então, um menino
que deveria ter entre cinco e oito anos veio com um balde de água. Aquele balde
tinha praticamente o peso dele. E ele o entregou pra mim. Foi a melhor recepção
que eu já tive em minha vida. Sabe, aquele pobre menino já tinha aprendido a
compartilhar e ser solidário”.
A
recepção do povo, segundo ele, foi um pouco acanhada, devido algumas
“histórias” contadas na comunidade. “Todos querem ter um branco como amigo. As
crianças muitas vezes choram quando nos vêem pela primeira vez porque aqui o
bicho papão das histórias infantis é o homem branco, então muitas histórias são
contadas como o homem branco vem te buscar”, fala.
Mas,
o país Brasil não é um nome estranho na boca do povo. “O esporte mais famoso do
país é o futebol, então, todos sabem sobre o Brasil. Não sabem onde fica e tão
pouco que língua falamos, porém sempre sabem falar 'Brasil Ronaldinho'. Pensam
que todos somos negros e que nosso país é pobre como o deles, falam muito do
futebol, samba e da música que os jogadores cantam quando fazem um gol
(samba)”, comenta.
Vida em Comunidade
Jonas
mora com mais três pessoas: as colegas da Coréia do Sul e do Japão e mais um
africano. O planejamento mensal é divido entre as atividades da pré-escola, da
fazenda com as mulheres, entre outros. A comunidade é muito pobre, 80% das
pessoas vive com menos de um real por dia, situação que está abaixo da linha da
pobreza. As casas predominantes são de barro, com duas divisórias, sem janelas,
uma porta de bambu e telhado de palha.
As
mulheres vestem Chitenja, toalha que enrolam no corpo e que forma uma saia. Os
homens usam roupas vendidas nos mercados locais ou recebidas por doações da
Europa ou América do Norte. “A área de atuação é ampla, corresponde
aproximadamente de Cascavel e Foz do Iguaçu. O transporte é bicicleta ou van,
onde se carrega qualquer tipo de produto, desde galinha, peixe até bode”.
A
área é de 300 mil habitantes e possui somente um hospital onde Jonas trabalhou.
A comida consumida é a Ksima, uma espécie de polenta. Duas refeições são
realizadas por dia e nelas, o alimento é Ksima misturada com algum tipo de
vegetal. A língua do país, segundo a National Geographic é chechewa. “Alguns
falam inglês, mas na área onde vivo, 90% somente fala chechewa. Isso é um
grande desafio que encontrei no começo aqui. A língua chechewa, por ser
indígena não é fácil de aprender e pronunciar. Além disso, não se encontram
muitos livro para aprendê-la”, lembra. A educação de primeira a quarta séries é
gratuita, através do governo. Porém, as escolas são distantes e as famílias não
têm condições de pagar uma escola privada.
Jonas
acorda às quatro horas da manhã. O café da manhã é um mingau. O almoço
geralmente é na comunidade com o povo local ou então, algo que ele leva na
sacola. “Almoçar com eles é importante, pois é sinal de respeito”. Ele
considera a estrutura da casa em que vive boa. No período da manhã tem água,
mas não potável, então, guardam água em grandes baldes caso precisem. A
eletricidade no período do inverno é mais constante. No verão é escassa, passam
dias sem ela. No inverno, ela está disponível no mínimo duas horas por dia.
“Dormir com o mosqueteiro é extremamente importante e obrigatório para
prevenção da malária”, alerta.
A
ida para o campo acontece por volta das seis horas, que é o horário que começa
aparecer o sol. “Depende da atividade que tenho que realizar e da vila que vou,
mas geralmente demora entre uma e duas horas para chegar ao local desejado. Às
vezes vou de bicicleta, às vezes pego o minibus. Levo comigo sempre água e
alguma comida, e um pouco de dinheiro caso precise”, explica.
As
atividades a campo terminam por volta das quatro horas da tarde, horário em que
o sol se põe então todos começam a se recolher para as casas antes que
escureça. “Quando chegamos, temos as tarefas da casa como limpar, cozinha ou
lavar roupa. Se não tiver nada para fazer vou caminhar, conhecer novas pessoas
ou ler, pois recebi muitos bons livros dos amigos que me enviaram”. A janta é
servida por volta das vinte horas e depois, Jonas vai dormir.
Nos
finais de semana, grande parte dos integrantes “salva o sábado” e todos “salvam
o domingo” para Cristo, conforme a religião. Às vezes tem funeral, que é
celebrado por três dias seguidos. Todos da comunidade têm que participar.
O trabalho
Jonas
escolheu o Clube Rural para atuar, pois queria viver dentro da comunidade e
fazer parte do ciclo de realidade local. “Aqui em Chikwawa atendemos 5.250
mulheres que chamamos de fazendeiras. Trabalhamos com mulheres porque elas
cuidam melhor da família e zelam pela alimentação de todos”. Elas são divididas
em grupos de cinquenta. Cada grupo recebe uma área, chamada demonstrativa, e as
orientações necessárias para o cultivo de algodão, soja, milho e feijão. O
trabalho é feito sem fertilizantes ou agrotóxicos, somente com sistema de
compostagem que o trio de voluntários ensina a fazer. “Após o período de
aprendizagem, elas vendem o produto colhido e com o dinheiro compram sementes
para plantar na sua própria área de terra, a qual todos possuem aqui, pois as
terras são divididas por aldeias”, explica.
Quando
as mulheres retornam para as terras, os voluntários acompanham e auxiliam no
plantio e no gerenciamento da produção, gerando renda para família e a garantia
do alimento para o ano todo. “Trabalhamos com o sistema de jardim individual
por mulher, onde elas têm a oportunidade de colher mais vegetais para
incrementar na alimentação. Providenciamos poços de água, para o consumo e
também para irrigação das áreas”.
No
programa de total controle das epidemias, a equipe realiza o mapeamento das
casas e o controle das doenças identificadas. “No Paraná, um projeto semelhante
é o da Pastoral da Criança. Porém, o grande problema, além da má nutrição e da
taxa de mortalidade das mulheres grávidas e recém-nascidos, é o elevado número
de HIV positivo”, informa.
Enquanto
as mulheres atuam no campo, os homens trabalham no mercado local ou em
companhias de tabaco, cana de açúcar ou chá, as três grandes matérias primas
produzidas no país. “Os homens sofrem muito com o alcoolismo. Na maioria das
vezes, o dinheiro gerado por eles não chega ao lar. Uma garrafa de cerveja de
milho de um litro custa 180 kwachas, aproximadamente 50 centavos de real. E uma
garrafa de 500 ml de água custa 360 kwachas, cerca de um real. Então, o consumo
da cerveja é maior, pois podem beber o dobro pela metade do preço”, explica.
Construção de Escolas
Nos
períodos de folga, a equipe trabalha na construção de pré-escolas. “Percebemos
a necessidade deste espaço, pois o número de crianças na comunidade sem ter
alguma atividade, algo para fazer é muito elevado devido à falta de opção”.
Para
começar o trabalho, a equipe realizou uma campanha através das redes sociais
para levantar alguns fundos. “Agradeço muito pela resposta obtida de todos os
brasileiros que confiaram no nosso trabalho e compartilharam a sua doação com a
nossa ideia”. São seis pré-escolas que a equipe está reformando ou construindo.
“Estamos tentando garantir a higienização para as crianças, providenciando
banheiros para que não precisem ir até o mato”.
Crenças e costumes
A
religião predominante é a Cristã, margem de 80%, 10% muçulmanos e 10% outras.
“Porém a magia negra é muito respeitada e realizada diariamente”. Existe uma
crença que dentro do cérebro do Africano Albino possui um diamante muito
valioso. Muitas magias negras utilizam parte do corpo do albino. “Não é comum
encontrar albino andando durante a noite por aqui devido ao risco de
assassinatos, mas agora esse fato não é mais comumente visto por este país.
Isso ocorre mais em Madagascar na atualidade”, comenta Jonas.
A
poligamia é permitida culturalmente no país e em muitas aldeias as mulheres não
têm a opção de escolha do marido. “Certas aldeias as mulheres formam uma fila
onde tem que deixar os seios amostra e então cada pretendente faz a escolha”,
fala. No país a exposição homossexual é ilegal e da cadeia. “A grande maioria
trata isso como manifestação demoníaca e evitam conversar sobre. Realmente é um
grande tabu. Um fato interessante é que não existe a descriminação na
vestimenta de cores, a grande maioria dos homens vestem o pink, principalmente
em chinelos e camisetas. Quando pergunto a eles porque compraram ou porque
usam, respondem porque gostam, e não é comum ver uma mulher usando o pink. As
mulheres preferem vestir o amarelo, verde e azul”.
A
região onde Jonas mora é teoricamente seguro. “Não existe muitos relatos de
assaltos ou mortes, aqui qualquer coisa dá cadeia direto e o julgamento é
realmente rápido. Todo tipo de droga é crime e o tráfico não existe, pois a
população não tem renda para a compra”.
Dificuldades mapeadas
Ao
longo do trabalho na África, Jonas sinalizou algumas dificuldades entre o
povo. A principal, segundo o jovem, é a
do conhecimento. “Possuem terras, mas não sabem tirar proveito delas. O período
de secas é muito forte e aqui, as temperaturas chegam na casa dos 40 graus. A
areia invade a casa, tudo morre. Se você não plantar e colher bem no período
das chuvas, com certeza vai passar fome no período da seca”, explica.
Saúde
e higiene também estão na lista. Os bebes são paridos no meio da lavoura,
cortados com qualquer instrumento e entregue às mães. Por isso, muitos bebês
possuem ínguas nos umbigos devido ao mau procedimento. O país também sofre com
a malária. “Eu tomo medicamento para tentar evitar, mas mesmo assim não estou
100% seguro. Durmo todas as noites com mosqueteiro, mas o número de pernilongos
é impressionante”, afirma.
O
número de pessoas infectadas com HIV é muito elevado. A poligamia é algo
cultural, assim como o álcool e a falta de conhecimento e acesso ao método preventivo.
“O mais recente e próximo caso que presenciei foi o nosso guarda da casa, um
senhor de 38 anos de idade, HIV positivo, pneumonia e não conseguiu
sobreviver”.
As
crianças de 0 a 6 anos de idade sofrem muito com a má nutrição. O Ministério da
Saúde padroniza o aleitamento materno até os dois anos de idade, como forma
segura de garantir a alimentação das crianças. “O problema é que, durante esse
período, muitas mulheres tem um novo bebê e param de amamentar o outro para dar
de mamar ao novo bebê. E, nesse período, elas não têm comida para alimentar,
somente dão a Ksima (espécie de polenta) para o bebê comer, sem nenhum
nutriente”, analisa.
Volta para casa
“Nunca
pensei em desistir, mas já me peguei muitas vezes perguntando o que estaria
fazendo se estivesse no Brasil. Olhando as fotos dos amigos, muitas vezes senti
saudade do conforto da minha casa e da minha família. Quando isso acontece,
coloco os fones de ouvido e escuto música ou então, caminho na escuridão da
África contemplando a natureza”.
Em
agosto Jonas retorna aos EUA e três novos voluntários assumem o lugar onde ele
trabalha agora. “Lá tenho que reportar o trabalho realizado aqui, finalizar os
estudos e divulgar a ONG, com o intuito de conseguir novos voluntários para
esse ciclo nunca se fechar”, destaca.
O
retorno de Jonas para o Brasil está marcado para fevereiro de 2014. O próximo
passo do jovem é continuar os trabalhos aqui na região. “Quero atuar nos nossos
vizinhos em Itaipulândia, Missal e demais cidades da região oeste do Paraná.
Ver que trabalho pode ser realizado, pois o sistema de bolsa família que
existe, no qual dá o dinheiro para o necessitado, não funciona da forma eficaz
como deveria. É como diz o ditado: dê um peixe a um homem faminto e você o
alimentará por um dia. Ensine-o a pescar, e você o estará alimentando pelo
resto da vida”.
Jonas
também pretende ir para o norte do País, onde a ONG em que ele atua tem um
projeto em Canção da Bahia.
No trabalho da ONG: Voluntários como eu, ou se querem ajudar com doações podem entrar no site www.oneworldcenter.org, VERIFICAR se já esta funcionando e depositar em dinheiro. Se quiserem, podem mandar alguns itens como materiais odontológicos para a clínica adventista de Ncholo.
Podem entrar em contato comigo pelo email: jonaskzk@gmail.com.
Como as pessoas podem ajudar?
No trabalho da ONG: Voluntários como eu, ou se querem ajudar com doações podem entrar no site www.oneworldcenter.org, VERIFICAR se já esta funcionando e depositar em dinheiro. Se quiserem, podem mandar alguns itens como materiais odontológicos para a clínica adventista de Ncholo.
Podem entrar em contato comigo pelo email: jonaskzk@gmail.com.
Matéria: Daiane Staub
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