Pequenos hospitais estão em situação de falência

quarta-feira, 14 de março de 2012



Capitão L. Marques – A situação dos pequenos hospitais do Oeste do Paraná é uma prova de que tudo o que está ruim pode ficar ainda pior. Boa parte dos cerca de 30 que atendem na região só não fechou as portas até agora pela sensibilidade de prefeitos, entidades de classe e voluntários que percebem que sem essa estrutura a situação da saúde pública nos respectivos municípios entrará em colapso. 

No entanto, a força dessa colaboração começa a perder fôlego e há iminente risco de fechamento de várias estruturas muitas das quais, segundo seus diretores, estão pagando para trabalhar.
Ainda mais grave é a situação do Hospital do Sindicato de Capitão Leônidas Marques. Na metade do ano passado, devido a um novo critério de distribuição de AIHs (Autorizações de Internamento Hospitalar) adotado pelo governo, o valor liberado caiu quase pela metade. Eram 117 guias por mês e agora são apenas 57, informa a colaboradora do setor administrativo da unidade, Marciane Scapini. O repasse caiu de R$ 54 mil para no máximo R$ 29,8 mil. “Se na época já era difícil manter as atividades, agora a situação é muito pior”, diz ela, reconhecendo o risco de encerramento das atividades a qualquer momento.
O quadro do hospital de Capitão só não é pior devido à sensibilidade da administração pública municipal. O valor mensalmente liberado a título de subvenção é de R$ 53,5 mil. “Somos obrigados a fazer sacrifícios para conseguir o dinheiro e manter a unidade aberta”, informa o prefeito Cláudio Quadri (PMDB), que atribui o cenário “à falência da saúde pública brasileira”. Para que a unidade funcionasse de forma adequada, o repasse federal deveria ser de pelo menos R$ 80 mil mensais. “No entanto é cada vez menor e dá a impressão de que alguém tem o interesse de acabar com os pequenos hospitais”, lamenta o gestor público.

Condições da 163 agravam o cenário 

As precárias condições da BR-163, no trecho entre Cascavel e Capitão, agravam ainda mais o cotidiano do Hospital do Sindicato. O elevado número de acidentes com feridos na rodovia pressiona o setor de emergências da unidade. Os primeiros atendimentos são feitos ali e os casos graves são encaminhados para o Hospital Universitário de Cascavel. No entanto, o deslocamento é realizado pela ambulância do município de Capitão e ainda é necessário enviar o médico plantonista para acompanhar o acidentado. Enquanto isso, o hospital precisa ter um gasto adicional para manter outro médico de prontidão para atender eventuais emergências.
O hospital de Capitão opera no vermelho e já não tem mais onde cortar gastos. Vários apelos têm sido dirigidos às autoridades de saúde e aos órgãos competentes para evitar o pior, mas os resultados são inexpressivos. A crise também atinge o município de Marechal Cândido Rondon, que em menos de um ano e meio viu os dois hospitais que atendiam pelo SUS (Sistema Único de Saúde), o Filadélfia e o Fumagali, suspender o credenciamento. “Não dava mais, pagávamos para trabalhar”, justificava à época o diretor Ítalo Fumagali.
O secretário municipal
de Saúde de Guaraniaçu,
Volnei Dall´Agnolo
 

Guaraniaçu – Os dois hospitais que atendem a comunidade de Guaraniaçu, Diamante do Sul e Campo Bonito também enfrentam um acelerado processo de sucateamento. “Estão em estado falimentar”, lamenta o secretário de Saúde de Guaraniaçu, Volnei Dall´Agnolo. Até o ano passado, os três contavam com 141 AIHs. Agora são 91, o que representa redução de cerca de R$ 25 mil mensais no repasse.
O maior problema nem está no volume de autorizações e sim no valor liberado pelo SUS, segundo Volnei. A soma corresponde à complexidade do hospital, conforme tabela. Com base no que os dois de Guaraniaçu oferecem, a quantia liberada a título de AIH é de R$ 473. “Para que as unidades pudessem atender com o mínimo de resultado, o valor da guia deveria ser de R$ 1 mil”, segundo o secretário.
Os dois pequenos hospitais sequer faturam para cobrir suas despesas. Um deles, o Santo Antônio, é de utilidade pública, por isso recebe da prefeitura mensalmente R$ 30 mil referentes a plantão médico. No entanto, para não fechar pede à administração pública mais R$ 20 mil por mês. “É muito dinheiro para um município arcar sozinho, principalmente em uma época de tanta oscilação nos repasses”, de acordo com o prefeito Ronaldo Cazella (PMDB).
O cenário é ainda mais dramático para o Hospital Nossa Senhora de Fátima, que é privado, conforme Volnei. Ele não pode receber subvenção pública e, por isso, tenta se manter com o dinheiro dos atendimentos de convênios médicos. A situação verificada em Capitão e Guaraniaçu é a mesma de outras pequenas cidades, como Catanduvas, Lindoeste, Três Barras e Ibema que contam com hospitais. “A ajuda para manter adequadamente essas estruturas deveria vir de cima, do governo federal, e não dos municípios já tão penalizados por outros encargos e obrigações, muitos de responsabilidade do Estado e da União”, diz o secretário. 

Obsoletos

Sem as somas adequadas para poder trabalhar, os pequenos hospitais não conseguem fazer caixa para investimentos e modernizar sua estrutura. “Com isso, ficam obsoletos e a qualidade dos serviços cai continuamente”, observa Volnei Dall´Agnolo. Apesar da crise hospitalar, na atenção básica municípios como Guaraniaçu e Campo Bonito têm algumas das melhores notas do Paraná, acima de 7. A média nacional apurada pelo SUS é de 5,4. 
O Paraná

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