Prefeitos são ameaçados de morte ao tentar conter contrabando

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Prefeitos de municípios lindeiros ao lado de Itaipu, principalmente os menores e que estão tomados por contrabandistas de cigarros, estão sofrendo ameaças de morte, junto com suas famílias, ao tentar combater ou minimizar as ações criminosas em suas cidades. A prática que vêm ocorrendo há algum tempo tem causado espanto em líderes públicos que, com medo preferem se calar.

O assunto já foi tema de reuniões fechadas na Amop (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná) e outros encontros regionais tem feito com que alguns prefeitos recuem. “A gente fica mesmo com medo porque essas pessoas são capazes de tudo”, conta um deles.
Há pouco menos de um mês O Paraná denunciou o esquema organizado do contrabando na fronteira. Na época, alguns prefeitos foram procurados para se manifestar sobre o assunto, mas preferiram não falar. Porém, relatos posteriores à publicação revelam que a situação tem ficado cada vez mais insustentável. “Em um único dia recebi duas ligações dizendo que era melhor eu não me meter nisso porque eu e minha família pagaríamos caro, mas assumi um compromisso e não vou parar, não vou recuar”, conta outro prefeito.
A ousadia de quem faz é tanta que sequer há o receio de ligar de celulares com números restritos ou privados e para alguns desses prefeitos, o simples ato de sair da prefeitura e voltar para casa é um motivo de atenção dobrada. Checam tudo antes de deixar algum ambiente e procuram não frequentar ambientes tumultuados e com grande aglomerado de pessoas. “A gente acaba se privando da vida em sociedade em algumas situações (...) abertamente esse é um assunto proibido onde vivemos ou no círculo que convivemos”, denuncia um líder regional.

Ailton Santos
Lago é utilizado para ação desenfreada de contrabandistas que estão cada vez mais ousados e perigosos
Contrabandistas pedem satisfações 

Em outro caso, mais um prefeito que prefere não ser identificado disse que chegou a ser questionado sobre as reportagens e, mais uma vez, as ameaças. “A gente tem família, sentimos medo e é natural que a gente se retraia”, comenta.
São pessoas que já não sabem mais a onde e a quem recorrer. As tratativas são para que, nesta semana, um grupo deles vá a Brasília em uma reunir com o Ministro da Defesa para tratar do assunto. O encontro que era programado para Foz do Iguaçu não mais será feito na região. O motivo é a falta de segurança para fazê-lo no Oeste.

Estado diz não ter conhecimento de ameaças

Cascavel - O secretário de Estado de Segurança Pública, Reinaldo de Almeida César, que esteve na região na semana passada afirmou não ter conhecimento dessas ameaças. Disse ainda que até o momento nenhum prefeito que tenha se sentido ameaçado procurou a Sesp.
“O problema da região [o contrabando] é grave e merece toda a atenção, todo tipo de situação como essa que envolve uma ameaça ou denúncia precisa ser apurada e se isso estiver acontecendo será feito todo o esforço para identificar a autoria e assegurar a integridade física dos prefeitos”, afirmou.
Nas reportagens divulgadas há menos de um mês um rastreamento feito pela Polícia Federal revela que o esquema é bem articulado e funciona mesmo como crime organizado com a cobertura de agentes públicos que atuam na fronteira.
Na última sexta-feira alguns deles foram identificados e presos pela PF. Trata-se de agentes da própria corporação, um deles delegado. Todos são acusados de enriquecimento ilícito provocado pela facilitação do contrabando e o descami8nho na região de Guaíra.
Nas reportagens o mapeamento do crime revelou que em Guaíra é onde está um dos principais trechos para a entrada do contrabando e em uma faixa de pouco mais de 100 quilômetros beirando o lago, entre Guaíra e Entre Rios do Oeste, há mais de 150 portos clandestinos comandados por 20 quadrilhas que juntas empregam diretamente mais de mil pessoas com salários que podem chegar aos R$ 50 mil por mês.
Há poucos dias a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, teria afirmado a um prefeito da região que “nem mesmo o governo federal tinha dimensão que a situação da fronteira, no Oeste do Paraná, é tão delicada e preocupante e que por isso precisava de uma atenção especial e diferenciada”.

 
Secretário pede para que prefeitos o procurem
para tentar localizar autores das ameaças
Insegurança na fronteira traz ministro da Justiça ao Oeste 

Foz – Os problemas vividos pela fronteira devem ser tema de debate nacional em poucos dias. A visita do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, está previamente agendada para Foz do Iguaçu no dia 20 deste.
Apesar de não ter sido confirmado pelo setor de agenda do Ministério, a estada de Cardozo na região pode estar diretamente relacionada às ameaças e o crescimento descontrolado do contrabando. A presença do ministro só será realmente confirmada no dia 16 quando ele retorna das férias.
No outro lado, para pedir o envolvimento do Estado, a Amop tenta agendar uma audiência pública com o secretário, Pública, Reinaldo de Almeida César, desde fevereiro deste ano. Algumas datas chegaram a ser anunciadas, mas foram adiadas.
A última data foi a do dia da visita César à região, 5 de julho. O deputado estadual Leonardo Paranhos (PSC) havia anunciado o encontro que seria realizado no auditório da Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel), mas um dia antes o encontro foi desmarcado.

Enriquecimento com cigarros 

O principal foco dos contrabandistas tem sido os cigarros com ganhos milionários e que abastecem mercados sedentos como o Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e a região metropolitana de Curitiba.
Da barranca do rio Paraná ou de propriedades próximas até depósitos localizados nas cidades de Toledo, Cascavel, Santa Tereza do Oeste, Maripá e Francisco Beltrão o serviço é feito com carro de passeio, geralmente veículos de luxo com motores potentes que facilitem a fuga caso haja perseguições. São carros roubados, clonados ou financiados que nunca são pagos.
Dos grandes depósitos regionais, já identificados pela PF até o destino final, o transporte geralmente é feito por caminhões que, graças aos inúmeros acertos, dificilmente caem na fiscalização.
Ilegalidade se esconde atrás de centenas de carregamentos de cigarros que deixam a região todas as semanas
Denúncia do esquema foi feita em série de reportagens publicadas pelo O Paraná há pouco mais de um mês
Jornal O Paraná de Cascavel

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